segunda-feira, outubro 11, 2004

A rã e o escorpião

Vicente:
Há bastante tempo que não te escrevo. O tempo passa enquanto ando a navegar pelo mundo das ideias e de outras coisas. Olha que não tenho estado lá muito satisfeito, porque os factos que as alimentam não constituem notícias agradáveis e isso tem-me feito pensar num lugar comum. O homem transporta consigo o gene da sua própria destruição. Afinal não é de espantar pois os seus genes já têm codificada a sua morte.
A propósito de morte, há gente, nomeadamente políticos da nossa praça, que evidenciam este facto de uma forma sonante.
Este tem sido o caso dos últimos acontecimentos políticos cá e lá fora.
Por isso lembrei-me de uma narrativa que não é nem fábula nem anedota, mas simplesmente aquilo que tu quiseres.
Aqui vai:

A rã e o escorpião
Certo dia abateu-se sobre a savana uma chuva torrencial. Já há muito tempo que tal fenómeno não era visto. Ficou tudo inundado e os locais altos formaram ilhas umas maiores outras mais pequenas.
Era de facto desolador. Os animais que tinham sobrevivido estavam nas ilhotas que se estendiam pela paisagem, ou nas encostas das suaves colinas que a água não tinha alcançado.
Quis o acaso que uma rã e um escorpião tivessem sobrevivido e tivessem encontrado abrigo na mesma minúscula ilha que se encontrava próximo de terra firme.
O escorpião olhando ao redor ficou ciente que se ali permanecesse durante muito tempo morreria de fome pois para além dele só tinha avistado uma pequena rã.
Constatado o facto, aproximou-se mansamente da rã e propôs-lhe:
- Oh! rã, repara que estamos sós numa pequena ilha e se aqui ficarmos acabamos por morrer de fome. Podias levar-me às tuas costas para a terra firme visto saberes nadar e eu não. Depois eu veria como te ajudar nesta calamidade, retribuindo-te o favor.
A rã desconfiada, pois conhecia a fama do escorpião, disse:
- Oh! escorpião, o que me pedes é para mim um risco muito grande. Já reparaste que enquanto eu nadasse tu poderias picar-me e eu morreria!
O escorpião contra-argumentou:
- Não estás a ver bem o problema. Se eu te matasse enquanto atravessavas a nado comigo às costas eu também morreria afogado. É pois isto uma garantia de que eu não te faço mal.
A rã convencida com tão forte argumento anuiu em levar o escorpião às costas.
Mas já a meio caminho o escorpião enfiou-lhe o ferrão envenenado no pescoço.
A rã sentido a picada disse:
- Ah! escorpião! És louco? Não vês que assim também morres?
O escorpião respondeu:
- Sabes rã, isto, está-me na massa do sangue.
Assim morreram a rã e o escorpião.

Pois é Vicente as coisas, por incrível que pareça, são assim na vida real, independentemente de os protagonistas terem tido outras intenções ou não. Portanto cuida-te deles.